2 Reis 23:29
"Durante o seu reinado, o faraó Neco, rei do Egito, avançou até o rio Eufrates ao encontro do rei da Assíria. O rei Josias marchou para combatê-lo, mas o faraó Neco o enfrentou e o matou em Megido."
Para quem leu a história do rei Josias é complicado entender a sua morte. A Bíblia diz que nenhum rei se converteu ao Senhor com tanta sinceridade e devoção e depois dele nenhum outro rei tão justo se levantou. Então um dia Josias resolveu sair à guerra e logo no primeiro confronto foi morto. Por que Deus não o protegeu?
Essa narrativa, encontrada no segundo livro dos Reis, está bem resumida. Mas podemos ver o registro do mesmo episódio de forma mais completa no segundo livro das Crônicas (cap. 35 a partir do verso 20).
Josias estava vivendo dias de paz. Certo dia ficou sabendo que haveria uma guerra entre o Egito e a Assíria e desejou fazer parte do confronto. Por quê?
Havia profecias antigas nas quais o Senhor anunciava castigos para essas nações que haviam oprimido Israel em outras ocasiões. Josias queria ver logo a palavra do Senhor se cumprir. Ele desejou participar da guerra para apressar as coisas, para "ajudar Deus a castigar aquelas nações". Ele não quis aguardar o momento de Deus nem o método de Deus. Por esse motivo Josias se empolgou e quis participar da guerra e a vontade era tanta que ele nem consultou o Senhor. Ele não queria perder a oportunidade de se vingar de antigos inimigos e se preparou para lutar contra Faraó. Josias achou que seria muito fácil pois a Assíria também estava contra o Egito. Seria dois contra um, então a vitória parecia certa.
Faraó Neco, rei do Egito, ficou sabendo da intensão de Josias. Inspirado por Deus , Faraó enviou a Josias uma mensagem de advertência:
"Não interfiras nisso, ó rei de Judá. Dessa vez não estou atacando a ti, mas a outro reino com o qual estou em guerra. Deus me disse que me apressasse; por isso para de te opores a Deus, que está comigo; caso contrário ele te destruirá."
Notemos que Faraó não tinha motivo nenhum para se importar com a integridade física de Josias. Isso veio de Deus! E esse fato por si só deveria "acender um sinal vermelho" no rei de Judá, mas isso não aconteceu. Se Josias não acreditava que Deus poderia lhe falar através de Faraó, ele poderia pelo menos tentar confirmar aquela palavra com algum profeta do Senhor, mas não fez nem isso.
Davi e outros reis costumavam consultar o Senhor antes de entrar em qualquer guerra. Josias estava se sentindo tão aprovado por Deus que nem se deu ao trabalho de consultar o Senhor. Por quê? Um outro motivo para isso deve ter sido que anteriormente o Senhor havia dito a Josias que contemplara a sua conversão e atitudes de arrependimento, portanto iria abençoá-lo. O castigo contra Judá já estava determinado mas por amor a Josias a catástrofe seria adiada. Josias viveria em paz por todos os anos de seu reinado. Morreria em paz e não veria tudo de ruim que iria acontecer à nação depois dele. Isso também o fez se sentir precipitadamente confiante.
Há um grande perigo na mentalidade ufanista de pensarmos que somos especiais, pré-aprovados e que em tudo o que fizermos teremos a bênção do Senhor. Não é bem assim! Às vezes Deus nos dá sinais para evitarmos determinado caminho e se teimarmos ele não nos livrará das consequências. Possivelmente aquela palavra tenha dado a Josias coragem para se enfiar naquela guerra desnecessária pois achava que estava sob a bênção incondicional de Deus.
Em sua infinita paciência Deus usou o próprio Faraó para advertir-lo (Não interfiras nisso!"... Deus pode te destruir") mas o rei de Judá preferiu fazer a sua própria vontade.
Muitas lições podem ser tiradas desse episódio. As mais obvias nos falam de submissão, humildade, dependência da orientação de Deus, domínio sobre o desejo de fazer justiça com as próprias mãos, fé para crer e aguardar a justiça de Deus. Mas há ainda outra lição a ser aprendida.
Numerosas vezes lemos na Bíblia narrativas que não conseguimos assimilar muito bem. Há episódios onde parece que Deus foi excessivamente severo ou até mesmo injusto com algum personagem. Quantas vezes evitamos julgar homens mas acabamos julgando Deus!
Por que não devemos julgar homens? Porque não conhecemos todos os pormenores das suas vidas nem cada detalhe das suas motivações. E quanto a Deus? Não devemos "julgá-lo" pelo mesmo motivo. O que sabemos sobre a história e costumes das nações, cultura, crenças e práticas? O que sabemos sobre a vida dos outros? O que sabemos sobre o tempo de Deus, os pensamentos de Deus e a sua forma de fazer justiça?
Se sempre soubéssemos o que Deus sabe certamente daríamos razão a ele todas as vezes mas é impossível termos esses conhecimentos. Nossa concordância com os atos de Deus não devem depender apenas do conhecimento pleno de todos os fatos. Isso jamais teremos nessa vida. Nossa concordância com os atos soberanos de Deus devem ser motivadas PELA FÉ. Fé na sua justiça e na sua bondade. O raciocínio deve ser "Sei que Deus é justo e que ele é amor. Se ele está agindo assim, então isso é o certo. Ele sabe o que faz. Eu confio."
Se eu SEI que ele é justo então eu concordo com todos os seus atos mesmo sem ter acesso aos detalhes da história. Esse é o desafio. Sem fé é impossível agradar a Deus.
Dessa vez o Senhor quis mostrar, no livro das Crônicas, a mesma história contada no livro dos Reis, só que com mais detalhes. Ao ler a história mais completa acabamos dando o braço a torcer e concordando com Deus. O Senhor não foi injusto com Josias, o qual foi carinhosamente advertido a não entrar naquela guerra.
Tendo acesso aos detalhes, a nossa visão muda. Confrontando Reis com Crônicas podemos ver as razões de Deus. Só que nem sempre isso vai acontecer. Raramente teremos os detalhes da história. E sempre que acharmos um texto "meio esquisito" devemos nos lembrar desse episódio e ter em mente que muitas partes relevantes dos relatos não estão ao nosso alcance.
Você pode concordar com Deus pela fé? Ou sua "fé" não funciona se não houver explicações?