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quarta-feira, 9 de março de 2016

Até onde estamos dispostos a ir - Lucas 24: 27 a 32



Essa é a conhecidíssima passagem bíblica que conta o episódio em que Jesus conversou com aqueles dois discípulos que estavam viajando para Emaús. Aquele acontecimento que tanto nos impressiona e comove, nos leva a vários tipos de reflexão.

Primeiramente gostaria de lembrar que ambos os discípulos, em sua história com Jesus, passaram necessariamente pelo primeiro estágio. É quando a gente nem mesmo está procurando. Ou está, mas nem sabe direito o que procura, Apenas somos alcançados, somos achados por Deus. Como na curtíssima história de Mateus (Lucas 5:27) e de Pedro e André (Mateus 4:18:20).

Creio que no tempo em que Jesus esteve nesse mundo em carne, muita gente teve sua vida marcada por ele nesse encontro único e inesquecível. Tornaram-se cristãos sem nunca mais terem visto Jesus ou recebido algum ensinamento diretamente dele. Isso é possível? É possível sim. Milhões de pessoas vivem assim. São salvas e passam a vida apenas relembrando aquele "momento mágico" em que foram tocadas por Jesus". Muitos inclusive são tocados para a salvação mas não dizem realmente "SIM" com suas atitudes, então apenas se lembram de uma experiência longínqua mas não desenvolvida, que não resultou em mudança de vida ou em salvação.

O que eu poderia chamar de "nível dois" pode ser exemplificado pelos textos de Marcos 4:1-3 e outros muitos, nos quais ensinava aos ouvintes vários mistérios a respeito do reino de Deus. Podemos passar a vida toda sem saber que na vida futura as pessoas não se casam nem se dão em casamento, podemos passar a vida toda sem saber que no final dos dias o Senhor separará os bodes das ovelhas, que haverá grande tribulação, que os anjos não se reproduzem, que Satanás está sujeito à autoridade do Senhor, que o jejum tem seu valor, que o diabo conhece bem os textos bíblicos e os usa frequentemente... Podemos passar a vida toda sem saber um monte de coisas e sem saber discernir a mão direita da mão esquerda. Podemos passar a vida como tolos, errando em coisas básicas, falando e fazendo besteira, confiando em tolices, sendo cegos a guiar cegos, Podemos sim, e ainda ser salvos. Mas como é bom ter conhecimento! Como é bom caminhar na luz, saber o que está fazendo, discernir os tempos e as estações! Algumas pessoas se conformam só com a salvação e não a desenvolvem, não adquirem conhecimento. Tem então uma qualidade de vida lamentável. Vivem em conflito, em confusão, frequentemente em crise de fé. "Errais não conhecendo as escrituras nem o poder de Deus". Falta de conhecimento nos leva ao erro. Então o "nível dois" pertence àqueles que andam com Jesus, que o seguem, que raciocinam, que perguntam, que querem entender, que então recebem do pão mais fresquinho feito pelo próprio Jesus e daí deixa de ser mais um faminto e passa a ser um alimentador dos seus irmãos.  Mas para isso é necessário buscar, querer, perguntar, andar junto, raciocinar, dizer "Senhor, não entendemos essa parábola!"

Vejamos agora o que há de comum nesses três episódios:

Lucas 2:25-38
Lucas 24:27-32
Gênesis 32:22-30

Vemos o registro da vida de pessoas que já haviam sido tocadas pelo Senhor, que já eram "privilegiadas", digamos assim, e que já detinham certa experiência e conhecimento que a maioria das pessoas não tinha. Eu diria que essas pessoas são como todas as demais, talvez como todas nós, que fomos alcançados pelo Evangelho, buscamos seguir o Senhor e buscamos conhecer o Senhor, seus planos, seus desígnios, seus pensamentos, seus propósitos. Mas algo as diferencia da maioria dos mortais: são pessoas obstinadas, determinadas, que foram além, que se agarraram a Deus de uma forma tão sedenta que acabaram recebendo o que ninguém mais recebeu e vendo o que ninguém mais viu.

Foi assim com Jacó, que já estava bem, feliz, rico e com uma bela família. Estava em oração e alcançou a graça de ver o Anjo do Senhor. Para qualquer um de nós já estaria de bom tamanho. Aleluia, vamos voltar pra casa. Tá bom demais. Mas para Jacó não estava bom demais não. Ele se agarrou àquele Anjo como um louco e disse "não te deixarei ir se não me abençoares". Foi uma luta.
Uma luta que poderia ter sido encerrada em segundos pois o que é a força do homem? Mas Deus sabe o quanto nos fortalece quando nos deixa lutar. E tanto ele lutou que foi marcado. Foi abençoado exatamente do modo como queria, seu nome foi mudado (para sinalizar sua vida antes e depois) e ele até saiu de lá mancando. Foi a experiência mais gloriosa da sua vida. Tudo porque ele não se conformou com o que a maioria se conforma. Tudo porque ele foi mais adiante, foi ousado, insistente, obstinado. Podemos estar certos de uma coisa: Deus recompensa esse tipo de pessoa.

Vemos o caso de Simeão, que vivia uma vida de santidade e dedicação a Deus acima da média. E tanto era assim que o Senhor o presenteou com algo muito especial: disse-lhe que ele não morreria antes de ver o Messias, o salvador do seu povo. O significado disso na vida de Simeão foi tremendo. Deu sentido à toda a sua vida tanto antes, em forma de esperança, quanto depois em forma de gozo e gratidão. Tanta gente viu Jesus! Mas não como ele. Não com o gozo e a unção dele. Não com o mesmo significado dele. De forma que a bênção que Deus dá aos que perseveram em fidelidade e em oração pode até parecer comum para alguns mas não é. Tem um sentido especial e cheio de glória para quem a recebe. E com Ana foi a mesma coisa. A Palavra diz que ela vivia dia e noite no templo em serviço e oração. Era uma devota, era uma mulher apaixonada pelo Senhor, isso muito antes de toda aquela empolgação do Pentecostes. Isso no meio de todo o tradicionalismo, religiosidade, farisaísmo. Nada disso serviu de desculpa. Seu coração era independente disso tudo. Pois Deus deu a ela a mesma alegria: quando viu Maria entrar no templo com o bebê nos braços o seu coração se encheu de alegria, de gozo espiritual. O Espírito revelou que aquele era o Messias. Ela glorificou ao Senhor e testemunhava a todos os que passavam, empolgadamente, aquela experiência. Acho que foi a primeira missionária, a primeira evangelista, a primeira pessoa que saiu falando de Jesus pra todo mundo que aparecia. Isso para ela teve um significado profundo e encheu sua velhice de luz e motivação. Tudo porque ela foi ALÉM. Não se limitou às práticas religiosas que todos se limitavam. Não fazia o que todos faziam. Ela passava os dias em oração. Ela "pegava no pé de Deus" e por isso teve uma experiência de alegria que pouca gente na sua época teve.

Por fim temos o caso dos discípulos no caminho de Emaús. Eles também já tinham sido encontrados por Jesus e convivido com ele. Já tinham recebido ensinamentos e explicações que a maioria das pessoas jamais receberia. Já eram privilegiados. Podiam viver e morrer com essa glória. Tá bom, não está? Além do mais, no momento de maior angústia e dúvida, Deus colocou em seu caminho aquele simpático viajante que lhes explicou um monte de coisas mais a respeito do reino de Deus, de tal forma que o coração deles como que ardia de emoção e devoção. Sentiam novamente aquela estranha comoção semelhante aos tempos em que andavam com Jesus. Pois bem, a bênção já estava completa. Se fosse pra qualquer um a bênção já estaria completa, motivo pelo qual Jesus fez menção de seguir caminho enquanto eles iam parar para cear e descansar. Mas aí é que está. Eles queriam mais daquela companhia, daquele ensino, daquela conversa, daquela água. Eles NÃO SE SATISFIZERAM e Deus recompensa aqueles que querem mais. Assim entendo.  Está escrito não que os discípulos convidaram Jesus para ficar com eles. Está escrito que convidaram, repetiram o convite e insistiram tanto que chegou ao ponto do constrangimento. Constrangeram Jesus. Como Jacó. E assim como o Anjo poderia ter seguido adiante mas se deixou deter, também Jesus poderia ter seguido mas cedeu. E aí eles tiveram uma experiência maravilhosa, inesquecível, que os alimentou certamente pelo resto da vida. Os olhos deles se abriram, eles reconheceram Jesus enquanto ele partia o pão, e eles viram Jesus desaparecer. Que coisa gloriosa!

O problema da mediocridade da nossa vida é que a maioria se conforma com o estágio 1. Passa o resto da vida com a lembrança daquele primeiro e único toque de Jesus em sua vida e "vão levando" só com isso, cheios de angústia, de dúvidas, de crises, sem alegria, sem gozo, sem entender nada. Outro vão além e se deleitam com a palavra, com o conhecimento de Deus. Aprendem, ensinam, caminham e crescem em experiência. Isso é maravilhoso e muitos outros vão por aí e com isso se alegram e se satisfazem.  Só que "a cereja do bolo" é para os que vão além disso.

"E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro, e estivesse na brecha perante mim... porém a ninguém achei"  . Ezequiel22:30

Quem se põe em oração e vigilância costumo dizer que é como quem "passa a vista" nos registros de uma câmera de segurança. Se você o fizer rapidamente, só encontrará as cenas maiores, mais chamativas. Mas se você for "chato", persistente e resolver se dedicar mesmo àquilo, vai acabar vendo o que ninguém viu, notando o que ninguém notou, o que passou desapercebido. Buscar a Deus é assim. Dependendo de como o faz, você pode não ver nada, ver alguma coisa ou ver o que ninguém mais viu, só você.

Você já perguntou a si mesmo o que já perdeu na vida só porque se conformou em saber o que os outros sabem e ter só o conhecimento que os outros já tiveram?

Você nunca pensou que Deus tem um tratamento personalizado, diferenciado para cada pessoa, e o que ele diz para um auditório nunca é igual ao que ele diz a uma pessoa em particular?  O que ele diz em particular é infinitamente mais doce, intenso e profundo.

Já pensou no que poderia ter sido dito e mostrado a você, mas não foi, porque você não teve a determinação de buscar, ou de ficar na torre de espera aguardando a resposta?

"Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes." Jeremias 33:3

"O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança". Salmo 251:14

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