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sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

A neurose da relevância



II Reis 5

                               Costumamos nos impressionar muito com a ideia de que deveríamos " fazer uma grande obra" para Deus.  Não sei quem colocou isso na nossa cabeça. Só sei que o resultado é uma grande dose que ansiedade na alma daqueles que desejam sinceramente agradar a  Deus. Mas como Deus é exigente!

                               Sabemos o que vem depois dessa ansiedade por "mostrar serviço": vem a frustração. Lemos as histórias dos "grandes"  personagens bíblicos. Todos eles, segundo a nossa avaliação, fizeram  "uma grande obra".  A ideia, errônea, é a de que eles fizeram porque foram fiéis. Quanto mais fiel, "maior a  obra". Quanto menos fiel," menor a obra".  Mas será que esse critério faz sentido?

                               Conheço muitas pessoas que, segundo a minha avaliação, são sinceras e fieis mas nenhuma delas fez o que fez Elias, Abraão, Eliseu, Débora, Paulo, Maria,  Pedro...  O que lhes faltou? Ou melhor: tem certeza de que faltou-lhes alguma coisa?

                               Por quê acreditamos que a Bíblia usa a história dessas pessoas como parâmetro? Eles não são parâmetros para "a vida cristã normal".  A Bíblia conta aquelas história fazem parte da história da salvação. Eles todos eram personagens  da história que Deus queria contar. Estavam ali pela história, não por si mesmos.

                                A Bíblia mostra que o Reino é construído não só com grandes blocos de pedra mas  com pequenas pedras também. Algumas são  tão pequenas que só notamos quando as vemos junto com outros milhares, formando a areia.

                                A história que me chamou a atenção hoje foi registrada em II Reis 5. É a história de uma menina cujo nome sequer foi registrado. Ela, na sua "desimportância",  figurava entre dois homens realmente "importantes": Naamã, o comandante dos exércitos da Síria, e o profeta Eliseu.

                                Um comandante estava certamente apto a fazer "uma grande obra" pelo seu povo. E o profeta também.  Mas ela não. Era uma menina, uma escrava.  A ela foi dada uma única missão:  fazer a ponte entre um homem angustiado e o servo de Deus que poderia ajuda-lo. Foi esse o ponto alto da sua vida.  Ela só precisava, na hora da oportunidade, abrir a boca e mostrar o caminho.  Deus a colocou ali justamente  para aquele momento. Talvez episódio tão relevante não iria  se repetir em sua vida. Ela não tinha o poder, ela não tinha a  palavra.  Tudo que tinha era uma informação.

                                Como classificar essa missão? Pequena? Média? Grande? E isso importa?

                                Deus só quer a nossa disponibilidade e obediência nesses momentos cruciais. Geralmente nem sabemos que são cruciais.  

                                " Não andeis ansiosos por coisa alguma", nem mesmo com a obra de Deus.  Fique tranquilo porque Deus  não quer que  você faça  uma grande obra. Sossegue.  Ele só quer que você esteja disponível e obediente nos momentos repentinos e específicos da vida.   A sua missão pode se resumir a dar um copo de água. Pode ser uma doação em um momento crítico. Pode ser hospedar alguém, orar por alguém. Talvez outros momentos tão relevantes não se repitam em sua vida. Aproveite então!      Como Maria, com uma única missão cumprida  ela fez toda  vontade de Deus destinada à sua vida.

                                 Sua missão pode ser subir o  Monte Sinai e receber das mãos do Senhor as placas de pedra com os dez mandamentos. Ou pode ser que você tenha sido chamado para ser um menino aleatório no meio de uma multidão carregando cinco pães e dois peixes. Talvez a sua missão não seja orar e curar mas  apenas levar uma pessoa a alguém com esse ministério.  Talvez você não seja aquele que vai recuperar o viciado mas você pode ser  aquele que diz "olha, naquele lugar as pessoas são libertas! Vamos lá"

                                 Precisamos parar com a neurose de ser apóstolo Paulo e  entender que talvez  Deus só precise de uma pequena escrava que mostre o caminho da bênção para o comandante do exército da Síria.

                                 Você aceita ser insignificante?

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